Amores Digitais: Vivi-King

Bruno Torres Boeger
2 min readMar 29, 2019

Um deslize com o dedo para a direita e combinei: ela não era bonita, mas curtia jogos, falava sobre 42 e curtir esticar as pernas em trilhas do interior do Paraná. E com o gosto da curiosidade nos olhos, percorri com a Vivi trechos de Asimov e paramos em Ayn Rand, com paisagens de Marvel versus DC — ela me ganhou ao xingar o Super-Homem.

Com dois dias de conversa, incluindo troca de fotos e telefonema de uma hora, marcamos um uísque (gin para ela) em 1 bar do centro. Chego cedo para tomar um Black Label Cowboy e me perco um pouco no celular, até ser interrompido por um Viking de 2 metros de altura, com uma camiseta de banda de rock:

- Opa. De boa?

- Na paz, e você?

- Então, eu sou a Vivi.

Como eu trabalho com trens, a melhor maneira de descrever meu choque nesse momento é com um descarrilhamento: um caracol gigante de 8000 toneladas, a 50 km/h, saindo dos trilhos, potencialmente acertando um prédio uma casa, instaurando calamidade pública — daquelas que a banda B pública em letras garrafais.

- Oi? — pergunta o Brunão, após descer zonzo da locomotiva acidentada.

- É… É que a gente se deu tão bem pelo chat, que achei que você não iria se importar com o fato de eu ser um homem. Você é exatamente como eu imaginava.

- OK… E o telefone? E a suas fotos?

- Essa é minha irmã. Pedir para ela falar contigo no telefone… “

E isso poderia começar uma nova história: eu finalmente descobriria a minha paixão eterna depois de décadas. Jogaríamos games de computador, bolaríamos teorias de conspiração e eu teria a desculpa para talvez ouvir Axel Rose com pouco mais de respeito… se não fosse, é claro, por um pequeno obstáculo: eu não sinto melhor atração por homens. E isso meio que ferra com os planos da “Vivi“, que até agora desconheço o verdadeiro nome.

O uísque desceu queimando depois que virar o copo. Me volto para o Viking, lhe desejo boa sorte e que ele possa, no futuro, se expressar sem medo de ser quem ele é, para que possa, quem sabe, desfrutar de momentos românticos cinematográficos num show de rock. De verdade, desejo um camarote para o “Vivi-King”.

Levanto, vou embora, ligo para os meus fiéis escudeiros e termino a noite como o início de uma péssima comédia romântica — destruindo um belo Petit Gateau.

--

--

Bruno Torres Boeger
Bruno Torres Boeger

Written by Bruno Torres Boeger

Service Designer, Macro Photographer and Chronics

No responses yet