O Amado

Bruno Torres Boeger
2 min readAug 7, 2020

Todo mundo gostava de Berenildo — o próprio nome já era motivo para colocarem seus sorrisos no rosto e puxarem assunto. Sempre estampando seus dentes, este ser que vós apresento cativava facilmente seu ouvintes, seja na fila da padaria, ou em seu trabalho no banco.

Fazia amizade até mesmo com aqueles tidos como rabugentos, críticos da vida que não abaixavam a guarda por nada neste mundo. Com Berenildo, não — já lhe abraçavam e contavam de suas vidas para ele. Até mesmo o presidente do banco fazia questão de ir a sua mesa e desejar um bom dia a este fenomenal ser humano.

E não havia ninguém para desgostar deste rapaz. Não senhor! As fofocas o erravam. As críticas eram substituídas por compreensão. Os amores decepcionados, substituídos pela gratidão de ter tido uma história, mesmo que finita.

Anos passaram e ninguém descobriu o seu segredo — sempre foi amado e bem quisto por todos. Em seu leito de morte, seu único neto lhe pergunta:

  • Vovô, mas você nunca foi odiado por ninguém?
  • Nunca.
  • Nem alguém te dizendo “Eu não gosto de você”?
  • Nunquinha!
  • Mas como isso é possível, vovô?!
  • Bem… complicado…
  • Complicado, uma ova! Você tem no mínimo a obrigação de passar o seu legado em frente.
  • Acho que você pode… ter razão.
  • Conta logo!
  • É simples meu neto — eu odeio todos vocês e, sempre que eu estava rindo, imaginava vocês morrendo de alguma forma estúpida e sofrida. Se eu pudesse, explodia o mundo inteiro para que não sobrasse nada…

E assim Berenildo disse, com seu último sorriso.

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Written by Bruno Torres Boeger

Service Designer, Macro Photographer and Chronics

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